Após ter sido ‘vetada’ por vereadores, exposição reabre na Pinacoteca de Jundiaí | Sorocaba e Jundiaí

A exposição “O Prazer de Desistir”, do artista jundiaiense Victor Gáspari Canela, será reaberta nesta sexta-feira (5) na Pinacoteca de Jundiaí. Depois de uma ação tomada por vereadores em conjunto com o Executivo e uma reavaliação do museu, a exposição cumprirá a classificação etária de 14 anos para receber o público. A Pinacoteca afirma que a mostra tinha apenas classificação indicativa e agora passa a ser expressa.
No último domingo (31), o vereador Antonio Carlos Albino publicou um vídeo nas redes sociais e afirmou que havia entregue um requerimento para que as obras da exposição fossem retiradas da Pinacoteca. Segundo ele, elas “promovem a sexualização das crianças”.
A Câmara de Jundiaí afirma que a decisão foi tomada em conjunto pelos vereadores com o intuito de cancelar a exposição.
Na terça-feira (2), Victor soube que as salas que recebiam suas obras estavam fechadas. Artistas jundiaienses se manifestaram nas redes sociais para expressar o incômodo com o ocorrido e apoiar o artista.
Ede Galileu, representante da cadeira de artes visuais no Conselho de Cultura, foi um deles: “Gente, tem que ser muito doente pra achar isso, sério! Eu convivo com crianças e criei um filho que hoje é adolescente, mas posso garantir que se sua criança vê sexualização nas obras da exposição, você está fazendo algo de errado na educação dela.”
Dono das obras que mesclam colagens, desenhos e pinturas, Victor acredita que houve proibição com intenção política. “O vereador, que é pré-candidato a deputado federal, usou a censura ao meu trabalho para se promover.”
A resolução anunciada pela Pinacoteca de Jundiaí para receber apenas visitantes a partir de 14 anos está acordada com Victor. “Não tenho nenhum problema com a programação para 14+, 16+ ou 18+. Não compete ao artista fazer a determinação da classificação. Inclusive acho que pode ser uma oportunidade para modernizar o perfil das exposições da cidade, assim como fazem Sorocaba, Santo André ou Ribeirão Preto.”
“O Prazer de Desistir”
A exposição é a primeira mostra individual de Victor Gáspari Canela, também conhecido nas artes visuais como Nariz Coletivo. É uma retrospectiva de trabalhos do artista, que propõe uma reflexão sobre o excesso de imagens na contemporaneidade.
Exposição “O Prazer de Desistir” será reaberta nesta sexta-feira na Pinacoteca de Jundiaí — Foto: PMJ/Divulgação
O projeto foi aprovado em edital no início do ano. Uma das obras que causou polêmica mistura partes de corpos nus, recortes de ilustrações, desenhos de super-heróis e fragmentos de quadrinhos.
“O Prazer de Desistir” está em cartaz desde julho na Pinacoteca de Jundiaí e reabre a partir desta sexta-feira (5), de terça a domingo, das 10 às 17h. A entrada é gratuita.
Obra no Palacete Scarpa em Sorocaba tem como objetivo enaltecer o feminismo — Foto: Divulgação
Uma pintura que traz o rosto de duas mulheres entrelaçados causou polêmica em Sorocaba (SP), em 2017. A obra foi pintada na lateral do Palacete Scarpa – então sede da Secretaria da Cultura e Turismo de Sorocaba (SP) -, e, para um vereador da cidade, a imagem trazia a representação de uma genitália feminina.
Na época, o vereador protocolou requerimento solicitando à prefeitura a imediata remoção da pintura do prédio, tombado como patrimônio histórico em 2013. No documento, ele alegava que a figura tem causado repúdio e vergonha à população, especialmente às mulheres.
Entretanto, um dia após do requerimento, o pastor tomou conhecimento do esboço apresentado pela artista ao poder público, em abril, e disse que vai solicitar o arquivamento do pedido. “Agora, vou fazer outro requerimento pedindo que ela se retrate e pinte o desenho original.”
Nas redes sociais, alguns internautas elogiaram a obra, mas outros criticaram o desenho e questionaram o fato dele ter sido feito em um prédio tombado pela prefeitura.
Em seu canal de vídeos no YouTube, Panmela publicou o making of do grafite, em um vídeo chamado de “Poema da Vagina”.
Na época, o Sesc informou em nota que a obra faz parte de um projeto premiado de Panmela que iria integrar o futuro Museu de Arte Urbana Contemporânea de Berlim. Sobre o esboço apresentado pela artista, afirmou que as diferenças são decorrentes do processo de criação artística, e que a síntese foi mantida. Por fim, o Sesc frisou que a obra não seria apagada.
A Prefeitura de Sorocaba respondeu ao questionamento do G1 dizendo que as imagens – o esboço e o resultado final – têm a mesma temática e questionam o papel e espaço da mulher na sociedade.
A pasta recebeu com “tristeza e indignação” o requerimento do vereador e finalizou informando que a “luta é para que a livre expressão artística não seja cerceada”.